Porsche Cayenne GTS é intenso sem tirar o fôlego

Acima da média para um SUV som 446 cv, mas longe de ser um extraordinário


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Se eu tivesse mania de perseguição, diria que estou sendo vítima da gangue dos utilitários esportivos. Motivos para desejarem o meu mal têm, afinal, na grande maioria das avaliações que fiz, os classifiquei como grandalhões desengonçados, caros e, principalmente, insossos ao volante. Eis que do nada, em uma tarde terça-feira, chega um e-mail sugerindo que acelerasse um dos líderes deste grupinho. Um dos chefões. O Porsche Cayenne GTS (R$ 582 mil). Como de SUV ainda não tenho medo, e por Porsche tenho admiração, aceitei de imediato a proposta.

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Porém, antes de fazer qualquer coisa com o alemão. Antes mesmo de vê-lo no estacionamento, recebi uma opinião que fez meu mau-humor ‘SUVnístico’ acender a luz de atenção. “Não vai pensando que é tudo isso”, disse um parceiro da WebMotors ao me entregar a chave do possante, logo após trazê-lo para a redação. Confesso que estranhei. Como assim não é “tudo isso”? Estamos falando de um cara com motor 3.6 V6 Turbo a gasolina (injeção direta de combustível) de 446 cv de potência e torque de 67,3 kgf.m. Resumindo: um canhão!

Fui imediatamente ao estacionamento tirar esta história à limpo...

De cara, Cayenne chamou a atenção. É imponente e impõe respeito. Incrível como esta segunda geração fez a primeira, que já era feia, parecer horripilante. Esta, em especial, me conquistou. Esta combinação de carroceria branca e rodas pretas (liga leve de 21 polegadas – pneus 295/35 R21) me agrada. As pinças vermelhas dos freios em alumínio (seis pistões na dianteira e quatro na traseira) complementam o visual imponente. Melhor que isso, na minha modesta opinião, somente se o ‘Porschão’ fosse todo preto...e as pinças vermelhas – ai ficaria “bandido”, como dizem os moleques da minha vila.

RODANDO

O Cayenne nunca me despertou qualquer interesse. Nunca esteve em nenhuma lista pessoal dos ‘dez mais’ ou ‘dez menos’ de qualquer coisa. ‘Na real’, sempre me incomodou um SUV ter tatuado na carroceria o símbolo da Porsche, especialista em superesportivos que primam pelo prazer ao volante. Sabe a história de a primeira geração do Classe A não ser, por muitos puristas, classificada como um legítimo Mercedes-Benz? Então, para mim é mais ou menos a mesma coisa com o Cayenne.

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Rodando, é nítida a sensação de que o Cayenne é um Porsche de alma, não de corpo. Quando prego o pedal da direita no assoalho, os ‘seis canecos’ trabalham freneticamente e a aceleração mostra-se intensa, mas progressiva. O corpo é pressionado contra o encosto do banco, mas não chega a ser arremessado como se o ‘shape’ fosse de um Cayman ou 911. O Cayenne GTS é intenso, mas não bruto ao extremo como o mais infernal da família, o Cayenne Turbo S e seus 578 cv e descomunais 81,5 kgf.m de torque (motor é 4.8 V8 biturbo).

Apenas como base de comparação, enquanto o GTS acelera de 0 a 96 km/h em 4,8 segundos, o Turbo S leva exato um segundo a menos (3,8 s).

A transmissão automática Tiptronic S de 8 marchas trabalha muito bem atendendo a demanda do propulsor seja em um passeio no parque com as crianças ou em uma estrada instigante. As trocas podem ser feitas pela manopla ou pelas aletas atrás do volante. Sou contra paddle shift em utilitários esportivos. Acho totalmente desnecessário, pois eu, particularmente, não me sinto inspirado em chamar as mudanças para as pontas dos dedos em um SUV. E o Cayenne GTS não me fez mudar de opinião...

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A tração é integral. E eu particularmente acho esta característica indispensável. Centro de gravidade alto, mais de duas toneladas de massa, canhão sob o capô e ausência de um mínimo de habilidade atrás do volante é uma combinação perigosa, mesmo com toda eletrônica disponível, como controles de estabilidade e tração, que estão lá, diga-se de passagem. Com as quatro rodas trabalhando, o Cayenne se torna mais dócil e previsível. Uma questão de segurança.

A suspensão é refinada – independente, McPherson na dianteira e Multi-link na traseira. Firme. Ao contrário dos SUV comuns, nada de ser suave para privilegiar o conforto. Com isso, a sensação de segurança nas curvas é maior. Importante ressaltar em que nenhum momento, por conta desta rigidez na medida, eu tenha me sentido dentro de um esportivo. A transferência de peso é sentida, inevitavelmente. É um carro de grandes proporções: 4,85 metros de comprimento (2,89 metros de entre-eixos), 1,68 metro de altura e 1,95 metro de largura. No entanto, aquela inclinação da carroceria é fortemente minimizada. Sempre me senti muito confortável – talvez a palavra seja confiante – em abusar um pouco mais do acelerador.

Por meio de comandos no console central – entre aquela infinidade de botões – é possível controlar a altura dos amortecedores, que podem rebaixar até 24 milímetros. Apesar de mínima, a diferença é bem perceptível. A posição de guiar fica mais baixa. Mais esportiva. Não chega transmitir a sensação de estar sentado no chão, como nos superesportivos, mas já cria um clima para abusar.

A sensação de segurança proporcionada pela suspensão firme, os controles eletrônicos de tração e estabilidade, e a tração integral são elevadas ao quadrado por conta de o Cayenne ‘ancorar’ forte ao pisar no freio. Muito eficiente. Nada de Deus nos acuda. O ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem) trabalham bem juntamente com os discos ventilados de 390 milímetros da dianteira e 358 milímetros da traseira.

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ESPORTIVIDADE INTERIOR

Ajuda personificar esportividade ao SUV o interior que traz uma essência de cockpit. Os bancos dianteiros (ajustes elétricos, assim como a coluna de direção) têm abas laterais grandes, que ajudam a segurar os ocupantes em uma toca mais esportiva. O console central é alto e os comandos – que são vários (chega a assustar em um primeiro momento) – estão concentrados ali. O volante sem base achatada, fugindo do ‘padrãozinho’ de todo tipo de carro que quer sugerir um mínimo de esportividade, tem excelente empunhadura, é multifuncional, mas com poucos botões (ideal), e é revestido em couro Alcântara como os ‘bólidos’ de competição.

O que mais agrada, porém, é o painel de instrumentos. Os relógios es estilo pirâmide, com o conta-giros em posição central e de destaque na cor vermelha. O velocímetro está lá, mas é secundário. O que importa é jogar as rotações lá em cima e ouvir as quatro saídas do escapamento esbravejarem a cada troca de marcha, seja subindo ou descendo engrenagem. A propósito, o Cayenne tem o recurso de por meio de um botão fazer o sistema de escape ‘pipocar’ mais. Logo depois de bater no botão da ignição, antes mesmo de apertar o cinto de segurança, eu carcava o dedo neste botão e abria a janela.

Ah, e depois mudava o modo de condução de Sport para Sport Plus, deixando as mudanças de marchas em giros mais elevados, as respostas do acelerador mais imediatas, a direção mais pesada e direta e a suspensão ainda mais firme. Só então apertava o cinto...

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REQUINTE

Tem a insígnia Porsche em todos os cantos, mas é um SUV. Portanto, além do desempenho, o conforto deve estar presente. E o Cayenne consegue entregar este requinte superior. O ar-condicionado, por exemplo, é de quatro zonas, e o sistema de entretenimento, que oferece entre diversas funções tecnologia de navegação por GPS. O sistema de som, top, é Bose – com potência de 585 watts.

CONCLUSÃO

Meu mau-humor com os SUV perde um pouco da força dirigindo o Cayenne. Devo admitir que a Porsche vem fazendo um bom trabalho com seu utilitário esportivo. Em termos de vendas já é o segundo modelo mais vendido da marca – atrás apenas do 911 – e inspira concorrentes de peso a seguirem o mesmo caminho, caso da Lamborghini e o futuro Urus. Não sei se com quase R$ 600 mil nas mãos e a missão de comprar um SUV eu compraria o Cayenne. Talvez apostaria em um utilitário ainda mais focado no conforto e menos do desempenho – um Land Rover, quem sabe. Fato é que para mim, Porsche é marca de superesportivos. Não de SUV (me desculpe).

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