Paraíso do drift

Fomos até o Japão contar a história de brasileiros que se arriscam nas montanhas em nome da paixão pelo “dorifuto”

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Carina Bufalos
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A estrada vai ficando estreita e sinuosa. E o silêncio da montanha, quase intimidador, só é quebrado pelo ronco típico dos motores japoneses turbinados rumo ao cume, uma sinfonia para os gearheads. Medo, para quem? Lá em cima, a polícia dificilmente aparece. Não se ouve quase nada. E não se vê quase nada. Não até os carros começarem a se alinhar para o início da diversão da noite, o drift na montanha.

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No Japão, a prática de dorifuto, como chamam o drift, é ilegal fora de circuitos fechados. Mas isso não intimida a legião de apaixonados em fritar pneu depois da meia-noite. Quase todas as madrugadas, há carros andando de lado pelas ruas japonesas. Os mais ousados se arriscam nas avenidas da cidade. Outros preferem invadir as montanhas, sem muita preocupação com a lei.

Trabalhadores, donos de oficinas de preparação, jovens. Amigos que buscam diversão em um lugar mais isolado e ilusoriamente mais seguro, longe de pedestres e da polícia. “É onde eu tiro meu stress”, diz um deles, pai de família, que sempre leva a esposa e a filha para acompanhar as madrugadas nem um pouco convencionais. “Na montanha é mais tranquilo”, comenta o outro brasileiro, dono de um Silvia S14 modificado com motor SR20, ao explicar que na pista é bem mais perigoso, já que os carros andam em maior velocidade.

Há vários circuitos fechados no Japão onde é possível praticar drift.  Eventos para pilotos amadores, como o Soukoukai, no Motor Land, em Mikawa, Aichi, que mostramos na última semana, proporcionam a prática legal do esporte em pistas fechadas, com regras estabelecidas entre os participantes e dentro da lei.

Outros “templos”, como o circuito de Ebisu, em Fukushima Prefecture, atraem centenas de pilotos profissionais e amadores, todos os anos. A cultura do dori é enraizada no país desde a década de 1970. “Aqui a gente tem facilidade para ter acesso às peças. Para fazer o drift, você precisa investir no carro, trocar todas as peças e substituir pelas esportivas”, conta outro dono de Silvia, um S15 modificado, com motor SR20 2.2 e turbina HKS.

Drift no Japão
Drift no Japão
Crédito: Drift no Japão
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Na montanha, apesar dos carros deslizarem em menor velocidade que nas pistas, pela característica das curvas bem estreitas e curtinhas, não há muitas regras. Em quatro ou cinco carros por vez, eles descem a partir do ponto onde está a galera - um recuo nem um pouco seguro onde ficam estacionados os carros de amigos e familiares, que assistem ao show sem qualquer tipo de proteção. “Nunca rolou acidente aqui”, comenta um deles.

Mas em menos de meia hora as primeiras batidinhas começam a acontecer. “Tem muita gente inexperiente hoje. Tem que ficar de olho”, alerta um dos brasileiros mais experientes do grupo, se referindo aos colegas novatos de drift, dois do Japão e um da Rússia, alguns dos poucos gringos entre os mais de 20 brasileiros do grupo.

Para-choques arrastando no chão, amassados, quase destruídos. Quem se importa? Não há muito tempo e preocupação para quase nada além de descer a montanha, e subir de lado. Muitas vezes.  Algumas sem esperar a estrada ficar livre. E os acidentes são evitados pelo rastro dos faróis, razão pela qual o grupo prefere fazer drift na madrugada.

O clima é familiar, de diversão, como em um encontro de carros à luz do dia. A tensão do início, quando a polícia rodeava os carros pelas ruas da cidade, desaparece no alto da montanha. Já se passaram quase três horas, e o cheiro de gasolina continua cada vez mais forte. “Eu falo para a galera que às vezes é bom não se empolgar. Quando você se empolga muito, é melhor fumar um cigarro, baixar a adrenalina”, diz um deles.

Quase duas e meia da manhã. O grupo começa a se preparar para a despedida. Mas alguns preferem não “fumar o cigarro”. Ironia ou não, é quando o pior acontece. E o primeiro acidente na montanha também é o nosso primeiro acidente. Evidência triste de uma história que, por sorte, podemos contar.

Nosso cinegrafista sofreu um acidente grave e teve de ficar afastado de sua rotina por 3 meses até sua recuperação. O drift de rua é ilegal e perigoso. Não incentivamos a prática fora de circuitos legalizados.

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