O incrível mundo dos dragsters

WebMotors te leva para pilotar um dragster em uma pista de arrancada nos EUA
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Karina Simões
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Estados Unidos, Las Vegas, a cidade onde os excessos são permitidos. E sim, há vários outros excessos além daqueles que você deve estar pensando. No nosso caso, interessam os que envolvem graxa e cheiro de combustível queimando, por isso fomos a uma pista de arrancada conhecer de perto os incríveis dragsters.

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Antes mesmo de chegar à Las Vegas Motor Speedway, um estrondo me deixava curiosa. Sim, tratava-se do barulho do motor de um dragster top fuel na arrancada, e se daquela distância ele já era alto, imagine de perto. Se você não está muito familiarizado com este tipo de modalidade, vou situá-lo. O dragster é um veículo de contrução bem leve, com um entre eixos longo e motores muito, muito potentes. Eles são construídos para provas de arrancada, o que significa que são bons em acelerar em retas, esqueça as curvas.

Os dragsters surgiram em 1960, lá mesmo nos Estados Unidos. E é impressionante como ao adentrar na atmosfera de uma prova de arrancada da NHRA (National Hot Rod Association, principal associação que promove corridas de dragsters nos Estados Unidos), fica escancarado o tal “american way of life”, a família norte-americana estereotipada em seu mais alto grau fazendo um “babecue” ao lado das carretas onde as crianças brincam com trikes e os mecânicos abrem os motores (vou explicar mais adiante).

A estrutura é imensa, cada equipe possui seu caminhão (muitas vezes mais de um) com tendas ao redor onde os mecânicos trabalham. Geralmente cada equipe possui dez mecânicos preparados para desmontar o V8 do dragster a cada puxada e, em no máximo 45 minutos, trocar as peças danificadas e montar tudo novamente. É incrível vê-los trabalhar. Isso ocorre pois o motor é muito potente e quase autodestrutivo se ficar muito tempo em funcionamento em uma rotação absurdamente alta, por isso algumas peças são danificadas durante apenas uma puxada - que equivale a 305 metros de distância. Só 305 metros!.

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Fui ver bem de perto o que era aquele barulho que ouvi chegando à pista. Impossível ficar sem protetores de ouvido. O som é ouvido e sentido como um tremor que percorre todo o corpo. Os motoresdos dragsters mais violentos produzem um som de cerca de 150 decibéis, 50 dB a mais que uma britadeira, por exemplo. Geralmente os V8 utilizam como base os blocos Chrysler 426 HEMI e são totalmente mexidos. Pistões, cilindros, camisas, comandos, muitas peças são reforçadas para aguentar o tranco. Comparar a biela de um motor de dragster à de um V8 de fábrica, faz esse último parecer de brinquedo. Eles produzem 10.000 cv de potência, um número inimaginável que leva os carros à velocidade máxima de 530 km/h.

O 0 a 160 km/h é feito em 0,8 segundo (menos de um terço do tempo que um Porsche 911 Turbo necessita para fazer o mesmo) e o 0 a 320 km/h é feito em menos de 2 segundos! A chama amarela que sai dos escapes é o nitrometano entrando em contato com o oxigênio. Uma dica é não ficar muito perto dos gases se não estiver acostumado, eles agridem olhos, nariz e garganta, parece spray de pimenta. O dragster de competição utiliza uma mistura de 95% de nitrometano e 5% de metanol. A cada puxada são gastos 14 galões de combustível. Se cada galão (3,6 litros) custa US$ 35, ou o equivalente a R$ 140, a cada arrancada vão embora quase R$ 2 mil. Os motores também são caros, valem US$ 100 mil, fora o carro que custa, sozinho US$ 250 mil (respectivamente R$ 400 mil e R$ 1 milhão). Haja grana pra essa brincadeira!

Piloto por um dia

Para eu não ficar passando vontade, a Mopar, divisão de acessórios e preparação do grupo FCA, me proporcionou um gostinho: acelerar um dragster de potência reduzida naquela mesma pista (sim, eu amo meu trabalho). O modelo que eu estava prestes a pilotar valia cerca de US$ 50 mil (por volta de R$ 200 mil). Era uma caixa de ferro equipada com um V8 6.5 de 500 cv que me faria percorrer os 305 metros em 10 segundos com velocidade máxima de 210 km/h. Qualquer mortal que vá a Las Vegas e tenha cerca de R$ 1.400 reais pode fazer o mesmo, o dragster que eu experimentaria pernence a uma empresa que aluga os brinquedos.

Fiquei um pouco tensa na preparação. Instruções eram “vomitadas” (em inglês) com frases do tipo: Não pise no freio com tudo, não gire direção bruscamente, faça o burnout conte até 2 e não se assuste pois o dragster não vai sair do lugar (eles molham o piso), pare de pisar no acelerador ao passar pelo cronômetro, entre outras tantas. Na prática é sempre menos complicado.

Para aquela experiência, o equipamento necessário era capacete, luvas e uma jaqueta.  Fui bem amarrada ao carro, cinto de quatro pontos, protetor de percoço e braços também presos ao carro (para eles não sairem do carro com a força do vento, disse o instrutor). A visibilidade é mínima, sentamos bem rente ao chão e há uma gaiola de ferro que nos protege. Além dos botões (que nós não devemos tocar!) há a alavanca do câmbio automático, um pedal para o freio, outro para o acelerador, relógios que mostram a rotação e temperatura, e só. A meu cargo ficaria apenas a direção, frenagem e aceleração. 

Enfim, chegou minha vez. A instrução era soltar o freio e fazer a curva para eu me posicionar na reta, sem acelerar. Enquanto eu me colocava em frente à reta, duas pessoas passavam uma mistura de água com cola nos pneus traseiros. Encharcados, eles derrapavam e não saiam do lugar durante o burnout. Todavia, conforme a borracha aquece, a cola derrete e gruda nos pneus. Isso permite que eles fiquem mais agarrados ao asfalto para uma boa largada.

O instrutor deu o sinal e aí era comigo. Eu teria direito a três tentativas, primeiro aceleraria apenas por 100 metros, depois 200 metros, depois os 305 metros da puxada completa. Eles chamam o semáfaro da pista de “christmas tree”. De fato é bem semelhante a uma árvore de natal. Acendem três luzes amarelas de cima para baixo, uma após a outra, até chegar a luz verde. O comando era soltar o pé do freio e afundá-lo com vontade no acelerador. Que delícia!

Era muita expectativa envolvida, por isso a primeira arrancada foi a mais legal. Nas outras eu já sabia, mais ou menos, o que iria encontrar: um soco nas costas, o motor urrando atrás da minha cabeça, o muro passando ao lado em uma velocidade que parecia maior do que realmente era e eu lá dentro tentando manter o carro na reta. A direção é bem instável, o que exige pequenas correções o tempo todo. O "tempo todo" de 10 segundos, que foi o tempo que eu cumpri 1/4 de milha. Chega a ser engraçado como a percepção do tempo muda.

Esta experiência me deixou ainda mais curiosa sobre como seria sentar em um cockpit de um dragster Top Fuel ou Funny Car (as categorias mais nervosas) e acelerá-lo até ultrapassar os 500 km/h. Quem sabe um dia...

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