VW Space Cross está a caminho da extinção

Preço nas alturas, projeto defasado e concorrência dos SUVs devem tirar modelo da linha de montagem em breve


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Quando a Volkswagen Space Cross chegou para teste, lembro de ter puxado na memória as vezes que já tinha visto o modelo pelas ruas e quase não obtive resposta. Uma rápida pesquisa nos números de venda me trouxe uma boa ideia do porquê não guardo lembranças. Apenas 416 unidades da perua “pseudo-aventureira” foram comercializadas este ano, sendo que entre outubro e novembro uma única unidade foi emplacada, segundo a Fenabrave. Os números sugeriram que eu estava diante de um dinossauro próximo da extinção. Bom motivo para uma exploração detalhada em busca de entender o que aconteceu com este candidato a fóssil.

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No fim de 2014, o modelo ganhou atualização no visual, um novo conjunto mecânico e mais equipamentos, mas mesmo assim conservou a essência do desenho datado de 2006, ano de lançamento da irmã SpaceFox, com quem compartilha a plataforma e a maioria dos equipamentos.

No caso da Space Cross, a perua chegou ao mercado apenas em 2010, ano em que a busca por este tipo de modelo já não vivia os seus principais dias. A carcaça recheada de apetrechos, a suspensão quase cinco centímetros mais alta que a irmã e o conjunto mecânico emprestado do Fox tiveram boa aceitação, mas não foram suficientes para torná-la um sucesso de vendas.

Na última atualização estética capô, faróis, para-choques foram totalmente redesenhados e passaram a seguir o novo manual de estilo da VW. O modelo permaneceu com a cara de fora de estrada, mas ficou mais refinado. Já o espaço interno permaneceu o mesmo, o que não foi ruim. A perua acomoda bem quatro adultos, enquanto o porta-malas traz 430 litros para as bagagens. Um dos bons truques utilizados pelo modelo é o banco traseiro corrediço, que pode ampliar o espaço para a carga ou para os ocupantes do assento traseiro.

Ao vivo, o modelo ainda chama a atenção. Seja pelos faróis estilo Golf, pela altura avantajada ou pelos detalhes prateados espalhados pela carroceria. Comparada com a rival, Fiat Weekend Adventure, a station wagon da VW é mais harmoniosa. Sem dúvida o modelo se encontra na sua melhor forma estética, mas, assim como os animais que povoavam o nosso planeta há milhões de anos, ter apenas uma carcaça evoluída não foi o suficiente para evitar o triste fim. 

Valor de raridade

Talvez a principal explicação para o insucesso nas vendas está no preço. A Space Cross parte de R$ 74.990, são R$ 9.090 a mais do que o Ford EcoSport mais barato. O valor assusta mesmo na comparação com a sua principal concorrente. A Weekend Adventure parte de R$ 64.240, são R$ 10 mil a menos que a rival.

A situação já estaria complicada, mas há ainda uma versão mais cara e, é preciso dizer, completa. Equipada com o câmbio automatizado I-Motion, além de alguns opcionais como teto solar, o valor final salta para exorbitantes R$ 85.500 (como a versão testada pelo WebMotors). Um Honda Civic LXR equipado com câmbio automático sai por R$ 80.700, já o Honda HR-V, que acaba de ser lançado e já é líder em vendas entre os SUVs médios, parte de R$ 73.700.

Em um momento de queda nas vendas, como o vivido atualmente, ter um preço mais alto que a concorrência não me parece uma boa estratégia.  

Mas vamos deixar a questão preço de fora e entender melhor o comportamento da perua. Este ano, a Space Cross teve uma importante atualização mecânica. O destaque ficou pela chegada do novo motor 1.6L MSI bicombustível, da família EA211, que também passou a equipar a linha SpaceFox. O propulsor entrega até 120 cavalos de potência máxima (quando abastecido com etanol) a 5.750 rpm. O torque máximo chega a interessantes 16,8 kgf.m a 4.000 rpm.

O novo propulsor casou bem com a proposta da perua, um carro familiar apesar dos apetrechos aventureiros. Não chega a empolgar nas acelerações, mas também é valente para enfrentar subidas íngremes ou quando é exigido em uma ultrapassagem. Segundo a VW, a perua acelera de 0 a 100 km/h em 10,3 segundos (com etanol) e chega a uma velocidade máxima de 189 km/h.

Apesar da maior altura em relação ao solo, em relação a sua irmã SpaceFox são 4,8 centímetros a mais, a perua manteve o bom comportamento dinâmico nas curvas. A suspensão é firme e impede que haja uma inclinação exagerada da carroceria. Um ponto negativo é o uso de freio a tambor nas rodas traseiras, melhor se fossem a disco. Os pneus têm medidas satisfatórias: 205/55 R15.

Câmbio ultrapassado

Um sinal de atraso latente na Space Cross é o câmbio automatizado I-Motion, apesar de ser um dos melhores entre os seus pares, está longe da suavidade conseguida com transmissões de dupla embreagem ou automáticas. O equipamento é indeciso nas manobras em baixa velocidade e dá bons trancos nas costas quando exigido em trocas com motor em alta rotações. O melhor, para não passar nervoso, é colocar a manopla na posição manual e efetuar as trocas pelas aletas atrás do volante (as famosas borboletas). Vale a pena pagar R$ 3.300 a menos e optar pela caixa manual de seis marchas.

Um dos pontos positivos da perua é a boa posição ao dirigir. Com ajuste de altura do banco e regulagens de altura e profundidade da coluna de direção (que é elétrica) fica fácil encontrar o ponto ideal para guiar. A ergonomia também é boa e os principais comandos ficam próximos do motorista.

O nível de equipamentos da perua também agrada, apesar da Volkswagen cobrar muito por isso. São itens de série a direção elétrica, volante multifuncional, regulagens de altura e profundidade da coluna de direção, ar-condicionado, rodas de liga leve de 15 polegadas, airbag duplo, freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica de frenagem), computador de bordo, controle de tração, travas e vidros elétricos, sistema de som com rádio CD-Player (função MP3), conexão Bluetooth e entradas USB, SD-Card e auxiliar.

Entre os opcionais estão o kit segurança 2, que agrega controle eletrônico de estabilidade e assistente de partida em aclive por mais R$ 1.310; teto solar elétrico mais luz de leitura dianteira e sistema multimídia com GPS por R$ 5.140 ou apenas o teto solar (R$ 2.810).

Conclusão

Diante de uma concorrência renovada e competitiva em preço, a Space Cross se encaminha rapidamente para se tornar um exemplar extinto. O desenho alinhado com o restante da família VW ainda cativa, mas é pouco para conquistar o comprador, que vê no preço alto do modelo o maior empecilho para tirar a perua da lista da extinção.

 

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