Um modelo pesado com certeza consome mais combustível do que um veículo mais leve, certo? Pode até fazer sentido, mas a história não é bem assim. Nem todo mundo sabe, mas sedãs tendem a ser mais econômicos do que hatches quando estão rodando em estradas, apesar do peso maior por conta do volume extra para o bagageiro.
A explicação para a boa performance dos sedãs está em um conceito básico, muito respeitado nos superesportivos: a aerodinâmica. “Pode parecer estranho, mas o mais importante não é tanto a forma da frente do veículo, mas sim a forma da carroceria no ponto que o ar para de ter contato com a superfície”, esclarece o gerente da Divisão de Motores e Veículos do Instituto Mauá de Tecnologia, Renato Romio.
O desenho dos hatches tem um caimento abrupto em direção ao solo, o que causa uma turbulência logo atrás do veículo, explica o engenheiro. Essa turbulência faz com que o carro precise de mais força para superar o arrasto aerodinâmico, que em outras palavras, é a força do vento contrária à direção do carro. O formato dos sedãs, que têm mais um volume na traseira, faz com que o vento seja escoado, minimizando os efeitos da turbulência.
Existe um teste que revela a eficiência aerodinâmica de um carro chamado de coast down, uma espécie de medição de desaceleração. “Imagine que um veículo é submetido a uma velocidade determinada de 100 km/h, por exemplo. Depois disso, ele é desacelerado naturalmente, sem colocar o pé no freio. A distância que esse modelo precisou para chegar a 0 km/h ajuda a mostrar a eficiência que ele tem para superar a força do vento e, consequentemente, economizar combustível”, elucida o membro da Comissão Técnica de Motores Ciclo Otto da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade), Henrique Pereira.
Outro teste muito comum é colocar um veículo contra um túnel de vento. A avaliação permite ver o caminho percorrido pelo vendo sobre a carroceria e saber se o desenho do carro está eficiente em termos aerodinâmicos.
A última tabela do Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro mostra alguns exemplos relevantes. Selecionamos o caso dos Volkswagen Gol e Voyage equipados com motor 1.0 de três cilindros que desenvolve 75/82 cv com gasolina e etanol, respectivamente. Os dois são quase idênticos. A mudança mais relevante está no peso: enquanto o hatch pesa 901 kg, o sedã sobe na balança com 947 kg.
Na prática, a gordura extra do Voyage vira poeira. Ele tem consumo médio de 15,4 km/l na estrada, quando abastecido com gasolina. Neste mesmo cenário, o Gol tem desempenho de 14,5 km/l. Isso significa que o sedã consegue rodar quase um quilômetro a mais do que o hatch com um litro de combustível.
Aliás, a eficiência do Voyage é tão grande, que ele é o quarto carro vendido no Brasil com melhor desempenho rodoviário com gasolina. Ele fica atrás somente dos hatches Volkswagen up! e Peugeot 208, além do Híbrido Toyota Prius – o japonês é o campeão da lista com performance de 17 km/l.
No entanto, o especialista pondera que o arrasto tem influência na estrada, mas não faz muita diferença no trânsito urbano. Voltemos ao exemplo da dupla Voyage e Gol. Na cidade, eles têm exatamente o mesmo desempenho de 12,9 km/l com gasolina. Isso ocorre porque na cidade não é implementada velocidade muito alta, o que diminui a força do vento contra o carro.